domingo, 2 de novembro de 2008

Confissão

Aborreço-te muito. Em ti há qualquer cousa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como em doirada taça algum amargo fel.

Odeio-te também. O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Despreo-te também. Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em intimo fervor!

Odeio-te e desprezo.te. Aqui toda a minh'alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!

Ah, como eu te adoro, como eu te quero, amor!...

Florbela Espanca

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